sábado, 8 de outubro de 2011

Chocalho

O caminho ficava transfigurado, um emaranhado de cores, um grande borrão. O vento tocava meus cabelos, não como uma carícia, mas como se discos gelados raspassem a minha pele. Minha respiração estava descompassada, extremamente acelerado. Meu pé estava ficando dolorida a cada passada longa que eu dava. As minhas roupas estavam molhadas por causa da pesada chuva que estava caindo.
Muitas pessoas paravam para ver se havia alguém atrás de mim. Ouvi gritos de deboches, de descaso, por eu estar do jeito que eu estava.
A chuva estava mais forte. O caminho não passava de uma maça cinzenta. O ploc-ploc da chuva zunia nos meus ouvidos.
Finalmente consegui chegar. A árvore ainda estava instável enfrente ao hospital. Lágrimas quentes escorriam pelas maçãs do meu rosto. Será que eu tinha conseguido chegar na hora certa? Corri. Mas na minha pressa, não tinha visto um pequeno graveto, pisei, escorreguei. Cai de costas no chão onde a terra e as águas se misturavam e formavam uma superfície úmida e atritosa. Me deixei ficar por alguns instantes lá sem  me mexer. Eu não queria... Eu não queria chegar lá e descobrir que chegaria... Que eu não chegaria na hora...
Senti uma sombra em minha cabeça. Devia ser só impressão. Estava chovendo muito para criar sombra. Uma mão tocou a minha testa. Fui obrigada a abrir os meus olhos. Não consegui ver a face, só vi. Algo me chocalhou. Essa mão era quente e repassava por ela uma sensação agradável.